A corrida pelos votos entre candidatos católicos e evangélicos!!
Interessante matéria publicada dia 15 de maio de 2013 no Correio Braziliense, por Helena Mader.
Corrida pelos votos de fiéis
ELEIÇÕES
Líderes religiosos disputam a preferência de católicos e evangélicos no próximo pleito. Eles querem ampliar suas bancadas para lutar contra temas polêmicos, como a legalização do aborto e o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
A discussão de temas como a legalização do aborto ou a regulamentação do casamento civil para pessoas do mesmo sexo esbarra em uma muralha cada vez mais sólida e crescente: as bancadas religiosas. A fim de lutar contra a aprovação de projetos polêmicos como esses, evangélicos e católicos de Brasília investem pesado para aumentar a representação na Câmara Legislativa e no Congresso Nacional. O objetivo dos religiosos é ampliar e fortalecer a presença no parlamento nas eleições do ano que vem, defendendo bandeiras como a preservação da família e da vida. Nomes ligados à Igreja Católica ou a correntes protestantes já se movimentam para conquistar o eleitorado cristão.
Como o Correio mostrou na edição de ontem, os católicos ainda são maioria no Distrito Federal e representam 56,6% da população. Mas o número de evangélicos do Distrito Federal cresce a cada Censo e já alcança 26% dos brasilienses. Em algumas cidades, como Brazlândia, o percentual de protestantes chega a 33%. O mapa da religiosidade da população do Distrito Federal mostra o potencial que os candidatos com esse perfil têm para disputar as eleições.
Nem todos os eleitores evangélicos ou católicos escolhem os candidatos com base em questões religiosas. Mas há muitos políticos que só conseguem bom desempenho nas urnas graças à vinculação a alguma igreja. Esses líderes defendem que os brasilienses votem apenas em concorrentes comprometidos com ideais cristãos e que lutem contra causas como a legalização do aborto — bandeira que une os representantes das duas religiões.
O deputado federal Ronaldo Fonseca (PR-DF) é pastor em Taguatinga e coordenador da bancada da Assembleia de Deus na Câmara dos Deputados. Ele está no primeiro mandato, conquistado principalmente por conta do voto evangélico, e já sonha com a reeleição para a Casa. Para o parlamentar, a representação desse segmento deve crescer nas próximas eleições. “Hoje, temos quatro deputados distritais evangélicos e a certeza de que esse número vai saltar no mínimo para seis nas próximas eleições”, estima Fonseca.
“No Congresso Nacional, também estou certo de que a representação vai crescer”, disse o deputado. Hoje, só ele tem forte perfil religioso entre os integrantes da bancada do DF no Congresso. Na Câmara Legislativa, a Frente Evangélica é composta pelos deputados Celina Leão (PSD), Evandro Garla (PRB), Benedito Domingos (PP) e pelo presidente da Casa, Wasny de Roure (PT).
Para Ronaldo Fonseca, as lideranças políticas estão cada vez mais interessadas nesse segmento eleitoral. “No passado, o eleitorado evangélico era visto como massa de manobra pelos políticos. Eles vinham pedir voto, faziam a gente de curral eleitoral e depois desapareciam. De 2002 para cá, esses eleitores começaram a ficar mais politizados. Hoje, as eleições obrigatoriamente passam pelos evangélicos. Ninguém ganha disputa para nenhum cargo sem olhar para esse nicho”, acrescenta.
Nomes novos
Além dos deputados já eleitos e que vão lutar para continuar com mandato no ano que vem, outros nomes surgem com força para a disputa de 2014. Sandra Faraj, pastora e administradora do Lago Norte, é vista entre os evangélicos como candidata em potencial. O ex-deputado federal Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, também é citado por todos os políticos evangélicos como um nome para 2014. Outro bastante mencionado é Egmar Tavares, da Assembleia de Deus do Gama, que foi segundo-suplente na chapa de Maria de Lourdes Abadia ao Senado em 2010 e, em 2006, concorreu a deputado federal. Ele é presidente do PSC no Distrito Federal.
Entre os católicos, o distrital Washington Mesquita (PSD) é o mais ligado à defesa dos ideais cristãos na Câmara Legislativa. Ele vai se candidatar à reeleição no ano que vem. “A Igreja orienta os sacerdotes que descubram os vocacionados e comprometidos com a defesa da vida e da família e que os oriente a entrarem para a política. O objetivo não é representar a Igreja na política, mas representar a sociedade cristã”, justifica Washington. “Temas relevantes estão tramitando e vamos nos engajar nas mobilizações contra o aborto. Meu objetivo é quebrar barreiras e chamar a atenção para a evangelização e para o anúncio da palavra”, acrescenta. Entre os católicos, o advogado Paulo Fernando, da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, é visto como potencial candidato para compor a bancada religiosa no ano que vem.
Representação tende a crescer
Entre os católicos, a preocupação com o debate eleitoral é tão grande que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma cartilha no ano passado para dar orientações sobre a escolha dos candidatos. O vigário geral da Arquidiocese de Brasília, padre George de Albuquerque, defende que os católicos optem por políticos com ficha limpa, éticos e, principalmente, que defendam a vida e a família — ou seja, que se posicionem contra o aborto ou o casamento gay. “A CNBB orienta as pastorais e os movimentos sobre a importância do voto. É preciso votar naqueles que verdadeiramente possam nos representar, escolher candidatos com ficha limpa, éticos, que respeitem as leis e fé a cristã”, comenta o padre George.
O presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal, Josimar Francisco da Silva, defende que os religiosos escolham candidatos comprometidos com a defesa dos ideais religiosos. “É preciso ter políticos que acompanhem de perto assuntos importantes que passam pelo Congresso e pela Câmara Legislativa. Há inclusive temas comuns a católicos e evangélicos, como a luta contra o aborto”, comenta Josimar.
Tendência
O cientista político João Paulo Peixoto, professor da Universidade de Brasília (UnB), confirma que a tendência é de aumento das bancadas religiosas, especialmente das frentes evangélicas. “A grande quantidade de partidos representados no Congresso ajuda a eleger essas bancadas evangélicas”, comenta o especialista.
Ele cita a polêmica recente em torno da eleição do pastor Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados como exemplo da força que o tema ganhará. Para Peixoto, projetos de perfil liberal, incluindo a legalização do aborto e a aprovação do casamento gay, terão cada vez mais dificuldade para passar pelo Congresso. “É um obstáculo considerável a ser ultrapassado. Não chega a ser um impedimento, mas certamente será difícil aprovar temas como esses com uma bancada evangélica cada vez maior.”
56,6 %
Total de católicos no DF. Os evangélicos representam um quarto da população.
Comentários
Postar um comentário